terça-feira, 26 de abril de 2011

A Teologia do Deus Garçon

A TEOLOGIA DO “DEUS GARÇOM”
                                                                                                       Marcelo Melo




Capítulo I- A LEI DA PROCURA E OFERTA


Em qualquer compêndio de Administração de Empresas ou Marketing é facilmente verificada a veracidade da ideia que quem dita o ritmo e as diretrizes do Mercado é a procura, quem tem em estoque o que o Mercado busca, tem o total controle da situação, não adiantaria hoje por exemplo, uma grande loja de departamentos tem para vender um grande estoque de máquinas de datilografia de última geração, ou aparelhos de som para tocarem discos de vinil altamente sofisticados, os computadores a cada dia providos de mais recursos, mais compactos e os Mps da vida que nunca se sabe exatamente em que número se encontram (da última vez que eu soube, acho que era MP10, mas sei lá...) estão ai sinalizando com bastante visibilidade que máquinas de escrever e toca discos de vinil estão em desuso e que no máximo podem compor o acervo de um museu de que mostra peças de um passado recente da humanidade, é neste pensamento capitalista que caminhamos, o Marketing cria a necessidade do consumo de produtos e serviços, sob o primeiro apelo de facilitar e melhorar a nossa qualidade de vida, até tornar os seus produtos e serviços, de uso essencial e de 1ª necessidade, provocando a nítida sensação de que é impossível viver sem eles, e os que insistem em andar na contra-mão deste avanço tecnológico, são taxados de arcaicos e ultrapassados, sendo em algumas ocasiões até motivo de riso e chacota por parte dos ditos modernos e avançados. A minha geração, viveu a infância, adolescência e os primeiros anos da idade adulta sem o telefone celular, fui apresentado à essa tecnologia aos 28 anos, e só tive acesso a ela aos 30 anos, quando possui um daqueles com dupla função, tanto servia como telefone com “arma branca” pelo peso, tamanho e formato, que assemelhava-se em muito à um tijolo... Pois é, mas tente convencer até mesmo uma criança de 10 anos de que o celular é um objeto supérfluo ou opcional, ela terá um sem-fim de argumentos para contrapor o seu ponto de vista e irá taxá-lo na melhor das hipóteses, de louco, o mesmo acontece com a internet, e outras tecnologias tomadas nos dias de hoje como essenciais para a vida.
Não estou aqui fazendo apologia ao arcaísmo, muito pelo contrário, acho que o bom uso da tecnologia é salutar e de suma importância, o exemplo que usei foi apenas para que possamos de melhor forma nos situarmos quanto à maneira a qual o Mercado se comporta com relação ao que podemos ver e principalmente com relação ao que existe e que sem uma visão crítica não podemos perceber com facilidade.
E isso acaba tornado-se ideológico em nossas vidas de forma dogmática, transferindo a necessidade do consumo para todas as áreas e a todos os aspectos da nossa vida, e quase sem nos sentirmos, colocamo-nos na qualidade de consumidores até no que diz respeito à nossa fé.

Capítulo II- A BENÇÃO DO SENHOR E O SENHOR DA BENÇÃO


A ideia que temos acerca de Benção, chega aos nossos ouvidos via de regra como agraciamento, do recebimento de algo incomum, seja no campo material, físico ou mesmo sobrenatural, o pensamento é, se recebemos, vivemos ou sentimos algo fora da normalidade, somos abençoados, caso contrário a benção passou longe de nós, e isso gera um sem fim de sentimentos opostos, que vão desde de uma sensação de frustração a um ceticismo árido e sufocante, principalmente quando isso vem acompanhado de aparentes “derrotas” ou “ insucessos” que produzem uma “crosta” de amargor, e em seja qual for o extremo acaba provocando um vazio existencial terrível.

A compreensão de Benção deve passar sempre por entendermos à luz da Bíblia qual é a boa, agradável e perfeita vontade de Deus em nossas vidas (Romanos 12:2) e que a nossa relação com Deus deve ser sempre bilateral, não no sentido de barganhar ou negociar com Ele, mais no tocante a buscarmos ter uma íntima relação com o nosso Pai Celestial, pois é nisto que encontraremos equilíbrio, principalmente quando encontrarmo-nos em meio à adversidades, lutas, dificuldades ou aflições, situações que são inerentes à nossa condição de seres humanos (João: 16-33) e infelizmente, ou felizmente não existe porções ou receitas mágicas para isso, tal coisa só acontece, quando há de nossa parte uma vida de fé, devoção e compromisso, em sermos parte produtiva na implantação do Reino de Deus, cuja a necessidade dispensa totalmente as “sanguessugas espirituais” aqueles que se alimentam de mensagens de positivismo, que são motivados a serem SUPER CRENTES, que são abençoados, ricos, saudáveis, bonitos, com status social, que conseguem obter vantagem em qualquer contexto em que estejam inseridos, são os Mais em tudo, autossuficientes pela fé, se é que isso pode ser possível, trabalhados numa espécie de “Programação Neurolinguística da fé” onde não se consegue ver muita diferença em um pregador e um palestrante conceituado em Cursos, Palestras e Simpósios de Auto-ajuda, área esta, onde inclusive alguns pregadores deste tipo de mensagem já se fazem conhecidos e gozam de bastante conceito no meio secular entre os consumidores deste tipo de atividade, uns já são até convidados como palestrantes, outros fazem bastante sucesso como integrantes de empresas de Marketing Net work, onde são pelas performances de produção e pela retórica, os mais requisitados para palestras.
Outra vez reitero que que não estou condenando esta ou aquela atividade profissional, pois não há nada de ilegal em fazer palestras para motivar pessoas, mas o estímulo ao “TER”, mais do que ao “SER”, não pode ser a tônica dos que se dizem anunciadores de BOAS NOVAS, daqueles que tem à Bíblia como regra de fé e prática, e ter a meta de “Prosperar” como o CARRO-CHEFE da sua fé. Então entendemos que não podemos ter direitos de Filho, sem exercermos deveres de Servo, não se pode querer as Bençãos do Senhor sem querer o Senhor da Benção. Esse pensamento é constantemente alimentado por uma teologia envolvente e com fortes indícios de desvio de seriedade, com uma hermenêutica produtora de um FUNDAMENTALISMO DE CONVENIÊNCIA, onde textos e passagens bíblicas são desprovidas do seus contexto para exemplificarem situações onde “esperar em Deus” implica em “receber a vitória” e o pré-requisito
para tanto passa apenas pelo cumprimento de algumas “obrigações momentâneas” e essa temática é difundida por eloquentes pregadores com refinados conhecimentos de Marketing em várias esferas, que somente olhos bem atentos e ouvidos bem treinados podem captar o que realmente está sendo feito, e acaba que esse tipo de mensagem acaba por facilmente passar-se por “pregação do evangelho” quando na verdade passou longe disso.
Como eu disse anteriormente, é o Marketing quem dá as diretrizes do Mercado de consumo, cria necessidades, provoca interesses, e a apresentação de tudo que é oferecido é rigorosamente pensada nos mínimos detalhes, para que possa aparecer no Mercado de forma atrativa, desde às embalagens, o público-alvo, entre outras coisas possuem um direcionamento preciso, e dai fazerem um sucesso tremendo , o mesmo acontece neste tipo de pregação, os apelos de mídia mostram pessoas que migraram do fracasso ao sucesso de forma normalmente meteórica, indo muitas vezes , bastante além do que imaginavam sobre ser bem sucedido, passa por músicas muito bem compostas em sua forma melódica, bem apresentadas por artistas e músicos profissionais, muitas vezes “convertidos” em escritórios de gravadoras, mediante a assinatura de vultuosas somas em dinheiro por um generoso contrato, e os “pregadores” são, não pastores ou missionários, mas advogados e altos executivos destas Empresas Eclesiásticas, adjetivos como CAMPEÃO, VENCEDOR, e situações colocadas sob o ponto de vista incondicional, com PROSPERAREI, TRANSBORDAREI, provocam nas pessoas, sensações de euforia levando a graus preocupantes de autossuficiência, pois se o que é proposto ali é condicionado ao momento, é o simples cumprimento de uma determinada obrigação, normalmente financeira, é que vai determinar o sucesso ou fracasso daquela iniciativa de fé, “-cumpri o que pedia a Campanha, tchau Deus, até a próxima” é como fica dito no subconsciente das pessoas que aderem a essa prática. E porque isso sempre funciona? É simples e na receita não consta nenhum ingrediente sobrenatural, é puro Marketing, afinal tudo que é bem apresentado e bem oferecido, é bem vendido.


Capítulo III - “SANTO ENDOMARKETING QUE ESTÁS NOS LIVROS”


Para os conhecedores do assunto, o termo supracitado, não representa nenhuma novidade, mas para os leigos requer uma explicação simples e de fácil compreensão, ENDOMARKETING, nada mais é do que Marketing Interno, é a visão de muitas corporações atualmente, no sentido de produzir melhorias e benefícios aos seus colaboradores e associados, (Termos utilizados nos dias de hoje para referir-se à empregados diretos ou indiretos) eu mesmo trabalhei em uma Empresa, que em todas as festas, promoções e benefícios, fazia questão de incluir os funcionários das empresas que ela contratava, isso também é visto dentro de Estatais, pois um público interno satisfeito e motivado é capaz de produzir números grandiosos, e isso foi percebido e devidamente incluído nesta teologia, que pela natureza dos seus propósitos não descuida-se de nenhum item de sua imagem corporativa, existem até algumas que possuem um Manual de Imagem Corporativa, nos mesmos moldes de Empresas seculares de grande porte, dai ver-se a constante alimentação do egocentrismo de seus líderes subalternos e de seus membros, fazendo-os realmente crer que estão em condição de superioridade em relação as outras pessoas, à outros líderes e à outros ministérios que não detém esta maneira de ver a Implantação do Reino de Deus.
Se partirmos deste pressuposto, o ENDOMARKETING de Jesus era horrível, ele ao contrário das grandes corporações, não dava VALE-TRANSPORTE, não dava VALE- COMPRAS, não fazia FESTA DE ANIVERSARIANTES DO MÊS, nem de FIM DE ANO, não dava PARTICIPAÇÃO NOS LUCROS, não SORTEAVA CARROS, e contrariando também os ministérios que também se referenciam assim, Ele não PROMOVIA CAMPANHAS DA FOGUEIRA, não PROMOVIA EXCURÇÕES À PREÇOS MÓDICOS À TERRA SANTA COM CONEXÂO EM PARIS COM 3 HORAS PARA VISITA À TORRE EIFFEL, AO ARCO DO TRIÚNFO E COMPRAS NOS PRATA PORTEUX DAS GRANDES GRIFES DE ALTA COSTURA da França, o chamado de Jesus era, é e sempre será o mesmo, SEGUE-ME, e Ele sempre deixou claro o que isso significava “Mas Jesus lhe respondeu: As raposas têm os seus covis , e as aves do céus, ninhos; mas o Filho do Homem não tem onde reclinar a cabeça. “(Mat.8:20), “Então disse Jesus a seus discípulos: Se alguém quiser vir após mim, a si mesmo se negue, tome a sua cruz e siga-me”(Mat.16:24), deixando de forma bem clara que isso não poderia ser algo condicional ou provisório:” quem não toma a sua cruz e não vem após Mim, não é digno de Mim. Quem acha a sua vida perdê-la-á; quem, todavia, perde a vida por minha causa achá-la-á.”(Mat.10:38-39) e mesmo quando deixou claro que vem em socorro dos seus, Ele vem demonstrando que atua na nossa impossibilidade, e que isso não era para o gozo de deleites, luxos ou prazeres, mas mostrando que o milagre e o referencial de fé está no repartir porções:” Está ai um rapaz que tem cinco pães de cevada e dois peixinhos; mas que é isso para tanta gente? Disse Jesus, fazei o povo a assentar-se; pois naquele lugar havia muita relva. Assentaram-se, pois, os homens em número de quase cinco mil. Então Jesus tomou os pães e tendo dado graças, distribuiu-os entre eles; e também igualmente os peixes quanto queriam. E quando já estavam fartos, disse Jesus aos seus discípulos: Recolhei os pedaços que sobraram, para que nada se perca." (Mat.6:9-12)...- É, pode ser, mas isso não vende, então você jamais verá a utilização de textos assim em igrejas de "Porta Larga".
O convite de Jesus, na verdade é uma conclamação, que implica em negação, separação(santidade), sacrifício e serviço, nós é que temos que servi-lo, e não ele a nós, afinal de contas o Espírito Santo não é Matrie e Deus não é Garçom.




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